quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Retrospectiva

por José Carlos Sousa

Passaram-se cerca de oito anos desde que respondi, no jornal de Santo Tirso, ao então e actual presidente da Câmara Municipal, Castro Fernandes, depois deste ter emitido um comunicado, o primeiro como presidente, à população do concelho de Santo Tirso.
Estávamos em 1999, e não obstante o concelho ter acabado de ser amputado em oito freguesias, com a independência da Trofa, o dito comunicado transparecia de esperança para o que restava do concelho. Infelizmente, o destino tem sido bem diferente, para pior.
Mas voltando à minha réplica intitulada: “ Resposta ao comunicado emitido pelo presidente da Câmara”, publicada em 31/12/99, praticamente todas as reivindicações ali discriminadas encontram-se hoje terminadas ou quase, embora uma ou outra fosse realizada por força das circunstâncias, como no caso do Acesso rápido a Santo Tirso ( que passa em frente ao Pão de Açúcar), que fora asfaltado de novo por causa da estadia da selecção francesa no Euro 2004. Disso não tenhamos dúvidas!
Na verdade, o concelho até à data tinha aproximadamente 106.000 habitantes, o 5º mais populoso do distrito, ultrapassado apenas por Gondomar, Matosinhos, Gaia e, claro, pelo Porto. A sua diminuição, muito por culpa de rivalidades politicas e sociais entre Santo Tirso e Trofa, só trouxe desvantagens que actualmente podemos constatar: o metro irá chegar à Trofa, não ao concelho de Santo Tirso; o encerramento do balcão da EDP; o encerramento do balcão das Finanças das Aves; o encerramento da loja da PT; o encerramento da Maternidade e outras valências do hospital, e a 306ª posição de Santo Tirso no Ranking de Desenvolvimento Municipal, num universo de 308 municípios, são sinais preocupantes para um concelho que se dizia progredir no futuro!
Os principais lideres políticos nacionais que visitaram o concelho pouco trouxeram, a não ser para marcarem presença, como no caso de Guterres, em 1996, que se deslocou a Santo Tirso para inaugurar o quartel inacabado da GNR, provavelmente para compensar a sua falta de comparência no comício para as legislativas, no Verão de 1995.
Ou para campanha politica, onde João Cravinho, em 1998, ganha aqui protagonismo ao inaugurar, também, a nova ponte sobre o Ave antes de nela se poder transitar.
Ou ainda a visita de Cavaco Silva, no inicio dos anos noventa, na qualidade de Primeiro Ministro. Este estadista disse logo na altura, ou deu a entender, que a têxtil estava condenada por causa, e cito as suas palavras “... da sua forte concentração nesta região ...”
Recentemente, numa tentativa de apaziguar amarguras deste concelho deprimido, José Sócrates, veio a Santo Tirso, com uma lufada de ar fresco, anunciar a construção de acessos rodoviários.
Mas, se os anteriores lideres actuavam daquela forma, demonstrando pouco interesse e por estarem enclausurados nos seus gabinetes em Lisboa, o mesmo não se poderá dizer dos seus autarcas que deveriam lutar afincadamente pela sua região. Em vez disso, apostam fortemente no populismo e na demagogia. Alguns exemplos típicos: a “Revisão Semafórica”, no concelho de Santo Tirso, por ordem de Joaquim Couto, noticiada na televisão, ainda em 1999, depois de vir a lume a noticia da electrocussão de uma criança num desses aparelhos de semáforos. Um aproveitamento politico lamentável.
Por sua vez, Castro Fernandes, há poucos anos atrás, aparece na RTP dizendo, etusiasmado, que o combate à poluição no rio Ave, através do Sidva ( Sistema Integrado de Despoluição do Vale do Ave), era um sucesso: “... a toxicidade da água está praticamente resolvida, falta resolver o problema da sua coloração que os técnicos estão a tentar solucionar...”.
Actualmente constatamos que nem uma coisa nem outra, o Ave é um rio completamente poluído, e o Sidva, um importante investimento feito na região, tem-se logrado num grande fracasso.
Mais recentemente, assistimos a uma espécie de inauguração do Cine-Teatro Municipal com música e demais festejos a temperar o acontecimento mas, para estupefacção nossa, o mesmo ainda se encontra em ruínas, ou seja, simplesmente não se iniciou a sua construção. Os tirsenses terão que começar a interrogar-se o que significa afinal o termo inauguração.
A tudo isto, ainda podemos juntar um rol infinito de propaganda politica na comunicação social e nos boletins camarários.
O que realmente seria necessário para este concelho era uma mudança de mentalidade de quem rege os seus destinos. Os seus autarcas não podem continuar a governar com base em politicas populistas. O povo, por seu turno, ao aperceber-se desta atitude deve protestar procurando alternativas que mais se adeqúem à boa prática governativa, e não deixar perpetuar no tempo politicas ultrapassadas que nada contribuem para um verdadeiro progresso.